sábado, 3 de setembro de 2016

Devir Social e sua aplicação na economia, parte 3 de 3

Mudanças nos comportamentos: assistência social.

A assistência social é algo muito comum em lugares aonde reina a pobreza. Contudo, o Devir Social enxerga um problema em muitas dos movimentos de assistencialismo social: eles parecem tratar o povo como uns coitados, que precisam de ajuda, de um herói, e não são capazes de crescer sozinho. O pior efeito deste tratamento é quando o próprio povo acredita nisto, gerando o que o Devir Social já apontou em seu manifesto constituinte como Terceirização da Responsabilidade. A questão é que, nas relações humanas, não existe herói, vitima ou mocinho. São todos seres humanos, todos tem alguma responsabilidade, mesmo que desprezível, em qualquer coisa que aconteça em nosso ambiente porque somos todos conectados por ele. Portanto, uma vez que se permita a terceirização da responsabilidade, se permite também que o povo se torne massa de manobra, servindo como alavanca político-econômica para pessoas que não estão realmente preocupadas com o povo, mas sim com seu poder.

E qual é o poder do povo, afinal? Na democracia, este poder é o voto. Porém, além do voto, o povo tem uma força pura, animalesca, da qual quaisquer seres humanos que tentam dominar através da inteligência e do distanciamento do viver humano teme, que é a violência. O estado previne-se, através de seus militares, para quaisquer eventuais atos de violência partidos do povo, contudo, um povo unido e com vontade de lutar por algo é imbatível. Afinal, não faz sentindo matar e prender todo o povo, porque é ele que sustenta os militares, os políticos e afins. Por isso, o Devir Social acredita que é preciso que se mude o jeito de se fazer assistencialismo social.

O dever daqueles que podem fazer alguma coisa não é ajudar, mas ensinar e dar condições para que o próximo possa fazer por conta própria. Quem está na condição de precisar de ajuda, assim está por processos históricos ou por erros pessoas, mas quem ajuda também tem o que aprender e a se beneficiar com a melhoria do próximo. Não é uma relação de quem ajuda se sentir bem por estar sendo caridoso, mas sim de ajudar para ser ajudado, pois todos somos seres humanos, podemos precisar de ajuda e também temos a capacidade de ajudar. Se aquele que pode ajudar se negar, que o faça, mas será dele a responsabilidade quando, daquele que precisou de ajuda surgir uma força muito maior que antes não era necessária: a violência. Ou se espera mesmo que aquele que passa fome ou não consegue progredir na vida fique de braços cruzados, olhando todos felizes menos ele?

Novamente, lembramos que a relação humana é dupla: aquele que será ajudado também precisa querer ser ajudado. Neste sentindo, lembramos que toda relação humana é uma negociação. Se ele não quer ser ajudado, também que não seja violento. Lembramos também que ajudar ao próximo é uma responsabilidade. Não é algo para ser feito de qualquer jeito, e nem pensar que fazer de qualquer jeito trará sempre resultados positivos: quem quer ajudar, mas não o fizer do jeito correto, só fará atrapalhar tanto aqueles que querem ajudar quanto aqueles que estão recebendo a ajuda. Portanto, que seja sempre claro as responsabilidades daqueles que assumem a posição de ajuda ao próximo. Quanto mais pessoas estiverem produtivas em uma economia, mais ela será ativa e se focará no bem-estar que na contenção daquilo que não funciona. Afinal, pessoas em situações muito extremas podem deixar-se ser consumidas por drogas ou outros vícios destrutivos por falta de esperança no ser humano.

Há também o perigo de uma estrutura de assistencialismo social ser utilizada como ferramenta de manobra por políticos ou quem queira assumir algum tipo de poder de forma indireta. Neste sentindo, elas se corrompem, pois embora aquele que ajuda diga que está lá para ajudar, sua real intenção é fazer um investimento para ganhar mais no futuro. Uma vez no poder que ele desejou, sua preocupação não será fazer aquilo que deve ser feito para continuar ajudando, mas sim apenas manter as aparências e atuar naquilo que ele realmente quer de forma sorrateira e ilegal. Há, inclusive, possibilidade dos políticos financiarem voluntários, que muitas vezes estão ali apenas para manter a aparência de trabalho e arrecadar votos para eles. Isto porque não estamos falando de desvio ou superfaturamento de ajuda, coisas que podem acontecer internamente se as pessoas que se envolvem genuinamente com o movimento não se preocupam em fiscalizá-lo. Portanto, assistencialismo social é algo muito sério. Não deve ser feito por qualquer um e sem responsabilidade.

Mas, afinal, de quem é verdadeiramente a responsabilidade de ajudar aos que precisam, se não do governo? Ele não é a entidade responsável pelo processo de continuidade? Portanto, não seria teoricamente redundante ter instituições fixas de assistencialismo social? Por ser a entidade responsável pelo processo de continuidade, é responsabilidade do governo prover todos os recursos necessários para o cidadão ter o mínimo necessário para poder iniciar seu processo de recuperação ou inicio de crescimento, para assim viver sua vida com o mínimo de dignidade e chances de crescer. Para tanto, novamente alertando, é preciso que o indivíduo também reconheça seus erros, sua história e esteja disposto a aceitar a ajuda e dar inicio à sua recuperação, estado que nem sempre é simples de alcançar.

Porém, não é isto o que acontece num governo confuso e corrompido. Ainda mais, numa cultura que usa o assistencialismo social para se promover e receber votos, é previsto apenas a continuidade desta cultura, que precisa de pobres para continuar. Portanto, o que o Devir Social espera que aconteça é que, tanto os pobres tenham a noção da sua força quanto àqueles que querem ajudar entendam a responsabilidade do que estão fazendo. Afinal, com um estado democrático de direito perfeitamente atuante, as pessoas sequer precisariam se preocupar com um sistema fixo de assistencialismo. A ajuda social ocorreria apenas para suprir demandas as quais o governo não teria tempo para se preparar e lidar adequadamente. Portanto, cabe a reflexão no final deste texto: que tipo de atitude é possível tomar para prover um real processo de recuperação, ao invés apenas de manter o assistencialismo social como um recurso de subida de poder?

Um último detalhe: toda e qualquer ação do governo sempre será mais lenta que ações de iniciativa privada. Isto porque o governo todo o governo só realiza uma atitude após seus mecanismos de aprovação social terem tempo de analisar e decidir pelo sim ou não. É por isto que, em algumas constituições, existem estados de emergência: como os de guerra ou catástrofe, para que o próprio governo possa agir com mais velocidade. Com isto, encerramos esta série de artigos que misturou a visão do Devir Social sobre a economia. Gostaríamos de alertar a todos que o Devir Social ainda é um movimento teórico, mas que está buscando vivenciar tudo aquilo que ele prega para saber se seus princípios são realmente válidos ou não na realidade. Isto, o tempo e a troca de experiência entre todos aqueles que participam do projeto será capaz de responder. Um abraço a todos e até a próxima.

Parte 1: http://devirsocial.blogspot.com.br/2016/09/devir-social-e-sua-aplicacao-na.html

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